quinta-feira, 12 de janeiro de 2012

SAÚDE - Verba extra garante 100 novos leitos

  Publicação: 12 de Janeiro de 2012 às 00:00

Sara Vasconcelos - repórter

Um novo aporte de recursos poderá dar fôlego à saúde financeira do maior hospital do Estado, o Walfredo Gurgel, e minimizar o histórico crônico de superlotação - com ambulâncias "presas" no pátio, devido à falta de leitos. O ingresso antecipado no programa SOS Emergência, do Ministério da Saúde, garantirá R$ 3 milhões para aquisição e renovação de equipamentos e mobílias, além de repasse mensal de R$ 300 mil   para custeio e a tabela dos serviços prestados ao SUS será dobrada. A  ampliação de leitos de retaguarda - que implica na contratação na rede privada de até 100 novos leitos, sendo 25 de UTI, regulados pela central do Walfredo Gurgel - representa um incremento mensal de R$ 1,5 milhões.

Júnior SantosA contratação de leitos na rede privada deve acabar com os internamentos nos corredores do HWGA contratação de leitos na rede privada deve acabar com os internamentos nos corredores do HWG

Os recursos foram assegurados na manhã de ontem em reunião, realizada em Brasília, entre o secretário estadual de saúde Domício Arruda, o Deputado Federal Henrique Alves que relataram ao Secretário Nacional de Atenção à Saúde, Helvécio Magalhães, a ocorrência de 27 pacientes "entubados" fora da UTI. A situação já havia sido presenciada por Helvécio Magalhães, em visita ao hospital, em novembro do ano passado. O programa SOS Emergência busca qualificar a assistência de urgência e emergência em hospitais do Serviço Único de Saúde.

O Hospital Walfredo Gurgel custa, por mês, R$ 10 milhões. Deste total, cerca de R$ 6 milhões equivalem a folha de pessoal e o restante é destinado para demais despesas referentes ao custeio, manutenção e abastecimento de medicamentos, material cirúrgico e de limpeza. Os recursos são oriundos do Ministério da Saúde, R$ 1,2 milhão  referente a produção (por serviços/procedimentos prestados) e cerca de R$ 8,8 milhões, em recursos próprios da Secretaria Estadual de Saúde Pública (Sesap), cujo orçamento não sofreu aumento no último ano. Embora atenda pacientes de todo o Estado, o HWG não recebe qualquer recurso de Prefeituras, em virtude da pactuação da alta e média complexidade se dar entre ente federal e o Estado.

Com a entrada no SOS Emergência, o custeio por parte do Ministério da Saúde dobrará, com a destinação de R$ 1,5 milhão por mês, já a partir de fevereiro, para a contratação dos leitos de retaguarda. O valor da diária repassado pelo Ministério da Saúde por leitos de UTI regularizados é hoje de R$ 400 e de R$ 135, para os de enfermaria - cabendo ao Estado a contrapartida, se necessário. No programa, o valor pago passa para R$ 800, para os de UTI, e R$ 300, os de enfermaria. O que aproxima ao valor pago hoje pelos planos de saúde e reduz a complementação feita pelo Estado.

O HWG dispõe  de 276 leitos, sendo 40 de terapia intensiva (UTI), além de 80 macas. A Sesap não tem leitos contratados em hospitais particulares atualmente.  "Já iniciamos entendimento com alguns hospitais e deveremos reforçar agora, como o Natal Hospital Center, que dispõe de maior número", observa o secretário Domício Arruda.

Além de facilitar a contratação na rede privada, explica o secretário, o aumento nos recursos federais permitirá que a fatia de despesas hoje bancada pelo Estado diminua e possa ser remanejada para outros hospitais regionais. "Poderemos ampliar a capacidade e a  complexidade em algumas unidades, como os Hospitais de São José de Mipibu, Parnamirim e Macaíba", disse. A falta de leitos é considerado pelo secretário o problema mais grave da saúde pública. Na tarde da última terça-feira, sete das nove ambulâncias do Samu Natal estavam "Presas", aguardando a liberação das macas em frente ao HWG. Três delas estava ali desde a noite anterior.

Problemas recorrentes de falta de medicamentos e materiais para atendimento deverão ser amenizados. "Com o custeio mensal de R$ 300 mil, poderemos garantir o abastecimento de medicamentos e material médico-hospitalar do Walfredo Gurgel, via Unicat", pontua Arruda. Nos próximos dias 17 e 18, técnicos do Ministério da Saúde e da Sesap se reúnem para definir o plano de ações e fechar o contrato.

2011: hospital não recebeu investimentos

A restrição no orçamento teria sido, segundo o secretário estadual de saúde Domício Arruda, o motivo de não haver investimentos no HWG, no último ano. Dos R$ 6 milhões constante no orçamento da Secretaria para investimentos em obras e estruturação, R$  2,4 foram destinados a Liga Norte Rio Grandense Contra o Câncer, para aquisição de aceleradores lineares; R$ 1,5 para reestruturação do Hospital Infantil Varela Santiago; R$ 700 mil para o Hospital de Areia Branca, o mesmo valor para o hospital de Extremoz, R$ 200 mil para o de Touros. Somente R$ 760 mil, foram destinados ao HWG para equipar o setor de neurocirurgia - partilhado com o Hospital Regional Tarcísio Maia, em Mossoró.

Para 2012, o secretário Domício Arruda diz ter assegurado R$ 4,3 milhões, por meio de dois contratos celebrados em 29 de dezembro passado, com o Ministério da Saúde. Os recursos são destinados a aquisição de equipamento de ressonância magnética, central de esterilização, serviço de nutrição e aquisição de 150 camas para a renovação dos leitos. A liberação aguarda a publicação de portaria.

Igual motivo - a restrição de orçamento em 2011-  é alegado pelo diretor administrativo financeiro do HWG, Josenildo Barbosa de Lira para justificar a ausência  de compra de maquinários, mobílias e equipamentos. O HWG tem gestão própria de recursos. "O valor disponibilizado não supriu sequer a demanda de material de consumo (medicamentos, material médico-cirúrgico, de expediente, limpeza e higiene, impresso) e pequenos reparos. Tivemos que contar com colaboradores", disse. A Unicat respondeu por 40% do volume mensal de medicamentos que é consumido pelo hospital - não especificado pelo diretor - bem como o Almoxarifado Central participou com cerca de 15% do fornecimento de material médico-hospitalar. O fornecimento de medicamentos básicos por parte da Unicat, entretanto, deveria ser entre 65 a 70%, cabendo ao HWG a aquisição de medicamentos de uso específico. "A Unicat não está abastecendo a contento, bem como o almoxarifado central", observa.

Direção do HWG reclama maior orçamento

Embora o número de atendimentos se mantenha 30% acima da capacidade do HWG, cerca de 300 ao dia, o orçamento  gerido pela direção do Hospital não acompanha o crescimento da demanda. Ao contrário, sofreu redução. O orçamento destinado ao Hospital - que tem autonomia financeira e administrativa - caiu cerca de R$ 5 milhões no último ano, em relação a 2010. Foram R$ 7 milhões, em 2011, frente aos R$ 12.773. 663,64 do ano anterior. Para este ano, a dotação orçamentária só deverá ser conhecida a partir de março, entretanto, o diretor administrativo e financeiro do HWG Josenildo Barbosa Lira espera o parâmetro de 2010.

A redução no orçamento interno para 2011 teria ocorrido, de acordo com Josenildo Barbosa, com base no gastos do ano anterior. Embora a previsão fosse de R$ 12 milhões apenas R$ 7,2 milhões foram gastos. "O motivo dessa redução passa por processos licitatórios não conclusos, informações desencontrados em registros de preços, entre outros que acabaram na devolução desses recursos aos cofres públicos por não terem sido executados", disse.

As despesas custeadas pelo Hospital em 2011 somaram R$ 6.353.510,72, dos quais R$ 4,7 milhões destinados a medicamentos, materiais médico-hospitalar, ortopedia, laboratório, banco de sangue, materiais de expediente, limpeza, dieta parenteral. E outros R$ 1,6 milhões gastos em contratos de manutenção.

Entretanto, dos R$ 7.246.004, 70 pagos em 2011, explica o diretor financeiro, somente R$ 3,6 milhões correspondem a despesas realizadas no ano passado. As demais se referem, respectivamente, a despesas de exercícios anteriores e restos a pagar de 2010. "Ainda não temos orçamento fechado para R$ 2012, mas já sabemos que cerca da metade do que foi gasto ano passado será pago com o que for destinado esse ano", observa Josenildo Barbosa.

Além do residual a pagar, o diretor argumenta que os R$ 7 milhões ficou aquém da necessidade real da unidade. Questionado sobre gestão dos recursos, o diretor preferiu não comentar "por estar a apenas 8 meses na função",  mas admite que para uma devolução desse porte "Houve um erro de cálculo".

Nenhum comentário:

Postar um comentário